REFLEXÃO SOBRE A TEORIA PLATÔNICA À LUZ DO FILME “CIDADE DOS
ANJOS”
Anderson Corrêa Pereira[1]
O presente instrumento objetiva relacionar, de modo
sintético, alguns aspectos da teoria platônica tendo como ponto de partida a
análise do filme Cidade dos Anjos. O romance apresenta basicamente o
relacionamento entre o anjo Seth, vivido por Nicholas Cage, e a médica Maggie,
interpretada por Meg Ryan. Na trama os dois, que vivem em mundos diferentes,
acabam apaixonando-se e, desobedecendo a uma série de regras, resolvem viver
esta louca paixão.
Numa primeira reflexão, podemos destacar a presença de
dois mundos no filme; de um lado o mundo material no qual vive Maggie e do
outro o mundo celestial, onde habita o Seth. Nesta perspectiva, remetemo-nos à
teoria platônica que apresenta-nos dois distintos mundos: o primeiro,
denominado de mundo das idéias, onde habita a essência de todas as coisas, e,
portanto são imutáveis e perfeitas. Deste modo, acabam permanecendo
inacessíveis pelo outro mundo que por sua vez é nomeado de mundo sensível, onde
tudo que existe é uma representação imperfeita daquilo que existe no mundo das
idéias; assim sendo toda magnitude do primeiro mundo é desejado pelo segundo
que de algum modo busca assemelhar-se ao perfeito. Para exemplificar tal situação
podemos citar a ilusão de perfeição que Seth sente quando se depara com Maggie
no momento em que ela possivelmente tenha trocado um profundo olhar com ele,
mesmo que não o tenha acontecido, pois ele era invisível aos olhos humanos até
então. Não é possível, segundo Platão, que um ser ou coisa do mundo das idéias
habite o mundo sensível, pois aqui tudo não passa de uma cópia do que lá existe
. Por essa razão a idéia de paixão que existe entre os dois personagens pode
ser considerada, neste sentido, inaceitável. Além disso, o conceito de Belo que
lá existe supera todas as criações que aqui se encontram, de modo que, mais uma
vez, afirmamos ser inconcebível a possibilidade de um SER do mundo inteligível
desejar um relacionamento com alguém deste mundo.
Outra reflexão pode ser desenvolvida a partir da cena em
que o anjo Seth, já visível aos olhos humanos, encontra-se com Maggie na
biblioteca. Na cena, Seth convida Maggie a fazer uma experiência: estando ela
de olhos fechados, ele a toca nas mãos e pergunta se ela sente seu dedo, ao
responder que sim, o anjo vê ali a possibilidade de firmar seu relacionamento
com ela. Segundo a visão platônica esta possibilidade do contato direto entre
um ser do mundo das idéias e um ser do mundo sensível jamais poderá ser
possível, uma vez que a busca pela perfeição é que faz do homem deste mundo
aperfeiçoar sempre sua obra e suas práticas. Além, disso existe entre os dois
mundos uma força que determina o nível de contato entre os seres dos dois
mundos. Nas concepções cristãs, esta força pode ser comparada a figura de Deus,
que faz o trabalho de manter distante, até certo ponto, os humanos das coisas
divinas, isto porque a vida na terra é simplesmente uma “passagem”, e que a
partir dessa experiência e dependendo de sua postura é que poderá ganhar a vida
eterna e poder contemplar a face de Deus e os demais seres celestes.
Ainda mergulhado na infinidade de possibilidade de
reflexão e tomando como ponto de partida a alegoria da caverna, podemos acrescentar
a este estudo a cena em que os dois personagens têm novamente um encontro na
biblioteca e ela, decidida a abandonar o romance com Seth, propõe que ele nunca
mais a encontre e nem apareça a ela. Pouco tempo depois ela acaba sentindo
falta dele e arrepende-se de tê-lo deixado. Na alegoria da caverna, aquele que
sai do interior da caverna para conhecer o mundo externo retorna à pra lá e,
numa tentativa de modificar as concepções dos que permaneceram, acaba sendo mal
interpretado e por vez até punido por conta de sua atitude. No filme, Maggie,
que antes vivia num mundo fechado para as concepções da ciência, acaba passando
por uma experiência com um ser celestial o que ocasiona na transformação de sua
forma de ver as coisas. Não agüentando mais o peso de ter nova forma de
compreender o mundo, decide retornar à sua vida de antes, o que não é mais
possível, pois já está embebida numa compreensão que vai além de sua força
natural.
Não distante disto que expomos, refletimos ainda à luz de
outra cena, as diferenças entre os dois mundos e as leis que regem cada um. No
filme é notória a diferença entre os dois mundos, sobretudo na cena em que o
anjo Seth aparece pela primeira vez a Maggie na biblioteca. Na cena percebe-se
todos os outros anjo presentes no ambiente direcionados a Seth com expressão de
espanto, pois não é muito aceitável que um anjo apareça aos humanos, pois sua
existência material pode confundir as pessoas e foi exatamente o que aconteceu.
Numa perspectiva platônica, compreendemos isso como desarmonia das leis e num
âmbito social, por exemplo, a presença de um ser como Seth, tornaria o mundo
mais complexo ainda de entender. Para tal situação, no que diz respeito a
presença de alguém com capacidades que vão além do que se denomina de padrão, é
aceitável a presença de um filósofo, pois só ele, assim como afirma Platão,
seria capaz de perceber a sociedade de um ângulo tão satisfatório que lhe daria
suporte para formular possibilidades de transformação social. Esta situação é
semelhante a visão que uma águia tem quando sai à caça, da altura possui visão
panorâmica e portanto tem maiores possibilidades de identificar sua presa.
Para finalizar, podemos afirmar que mesmo diante de uma
teoria, como a de Platão, que fora pensada e escrita a tanto tempo, podemos
verificá-la na contemporaneidade e também observar como sua força é tanta que
acaba por influenciar todo um povo e por vez sua forma de ver o mundo. A mídia,
através do filme “Cidade dos anjos”, pode comprovar-nos a veracidade desta
informação, de modo que nos possibilitou a criação deste estudo. Cientes da
grandeza da riqueza que é a teoria de Platão, afirmamos ainda que se
analisássemos com maior exatidão o filme em questão e fundamentados com maior
profundidade na teoria platônica, conseguiríamos fazer tantas relações que nem
mesmo nós teríamos conhecimento da dimensão e isso se dá devido a presença tão
marcante desses pensamentos na sociedade ocidental, o que transparece na
vivência desse povo.
[1]
Graduando em História pela Universidade Estadual do Maranhão - UEMA
Intérprete de Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) da
rede Municipal de Ensino de Pinheiro- Ma
Professor da Rede Estadual de ensino de língua
1(Libras) e 2 (Português) do Atendimento Educacional Especializado.
anderson.1103@hotmail.com